Há um menino… Há um moleque… Morando sempre no meu coração… Toda vez que o adulto balança… Ele vem pra me dar a mão… (Bola de meia, bola de gude – Milton Nascimento)

14/08/2018 09:06

Por: Débora

Em meio as tagarelices da vida, ecoa uma notícia. E o que ela diz? De inquietude e formação de professores: é sobre isso, especificamente, que uma notícia se espalha, produzindo ruídos e silêncios, provocando pensamentos ao se dispor atravessar o território da educação matemática. Nos atravessamentos enviesados que ressoam por entre a notícia, experiências, vivências, memórias, forças e quereres envolvem e movimentam uma professora, misturam-se as múltiplas vozes e importunam pensamentos.

Estou em curso. Sou movida e produzida na inquietude. Essa inquietude frequentemente bate à minha porta e convida-me a sair do lugar para percorrer lugares não conhecidos, ocupar – mesmo que efemeramente – outros espaços, estranhar o naturalizado, suspeitar do óbvio, desestabilizando a professora de matemática que habita em mim. Em uma destas muitas batidas à porta, a inquietude, vestida de menino moleque, me convidou a perambular e pensar a formação de professores.

Das perambulações produziu-se uma tese que, dentre outras questões, lançou olhares e problematizou uma formação de professores, mediante uma perspectiva que possibilitou transitar da ideia de formação, como espaço de mediação, para oficinas-dispositivo pedagógico, ou seja, como dispositivo mantenedor de práticas de subjetivação e objetivação de professores.

A ideia de problematizar uma formação de professores se deu como um espaço de abertura ao acontecimento, e, sobretudo, como um lugar de resistência que estremeceu certezas, as perspectivas e os lugares dos quais falávamos de formação. Com isso, passou-se a pensar que uma formação de professores pode extravasar fronteiras e deslocar-se de lugares naturalmente aceitos, como aqueles que tratam o ensino e a aprendizagem como ações indissolúveis, capazes de serem controladas, quantificadas e avaliadas, levando sempre a um fim pré-estabelecido.

Recentemente, encontrei-me com um dos tantos textos de Jorge Larrosa, em que, inspirado em Hannah Arendt, nos diz:

A educação é o modo como as pessoas, as instituições e as sociedades respondem à chegada dos que nascem. A educação é a forma em que o mundo recebe os que nascem. Responder é abrir-se à interpelação de uma chamada e aceitar uma responsabilidade. Receber é fazer lugar: abrir um espaço no qual aquele que vem possa habitar, colocar-se à disposição daquele que vem sem pretender reduzi-lo à lógica que rege em nossa casa (2013, p.188)

 

Na quietude de palavras que se encerram junto a uma leitura, sinto-me estarrecida pelos silêncios que ecoam em meus ouvidos. Outra vez a inquietude chega devagar, como quem não quer nada, chama-me à vida e lança-me convites. Insiste com a formação de professores. Quer me fazer pensar com ela e sobre ela. Parece-me que gostou deste lugar. Confesso, que me anima muito pensar a formação de professores. Novamente nos demos as mãos e seguimos perambulando, saltitando, dando voltas e piruetas envolvidos com esta problemática. Sigo-me permitindo. Desejo esbarrar com o desconhecido, viver experiências com a formação de professores, em especial, com a formação de professores de matemática. Afinal, se a educação tem a ver com o modo como respondemos àqueles que nascem e, se educar é receber, é fazer lugar, é preciso, pois, criar condições que possibilitem a existência destes lugares, permitindo então, que a novidade aconteça e o incerto e o desconhecido sejam cultivados. Pensar a educação nesta perspectiva, em particular a formação do professor, é permitir-se aventurar-se por lugares obscuros. Faz-se necessário, pois, superar medos, suspender certezas e desapegar-se dos modelos, para enfim, permitir-se experimentar, inventar, transformar.

 

Referências

LARROSA, J. O enigma da infância ou o que vai do impossível ao verdadeiro. In.: Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Trad. Alfredo Veiga-Neto. 5ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. p. 183-198.

WAGNER, Débora R. Visualidades movimentadas em oficinas-dispositivo pedagógico: um encontro entre imagens da arte e professores que ensinam matemática. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.