Era uma vez um mundo que não era nem imaginário, nem real… Era mais que real.

16/09/2018 11:39

Por Jéssica Juliane Lins de Souza

“Na tribo, o velho é o dono da história, o adulto é o dono

da aldeia e a criança é a dona do mundo.”

Orlando Villas Bôas (1914-2002).

Era uma vez um mundo que não era nem imaginário, nem real… Era mais que real.

Um mundo feito à mão com cola, tesoura, recortes de revista e caixas de ovo. Inventado por crianças em um movimento surreal de pesquisa-experiência, guiada pela ebriez da obra de Salvador Dalí e por palavras de outros artistas (e) surrealistas.

Um mundo onde o tempo é outro – suspenso da realidade, e relógios derretem como queijo camembert em um dia quente de verão.

Um mundo regido por uma matemática outra, que gera estranhamento e, ao mesmo tempo, fascínio, encantamento: um mundo que provoca visualidades e faz emergir pensamentos e saberes matemáticos.

Um mundo onde o encontro com arte e matemática e crianças e oficina e pesquisa gera inquietação e faz pensar: afinal, o que é o real?

Com crianças, descobrimos que:

O real tem a ver com proporção: algo grande demais ou pequeno demais não faz parte do mundo real; necessita de uma função ou nome diferente para que faça parte de algum mundo inventado.

O real tem a ver com a forma: e a forma tem a ver com a beleza. É belo e real o que mantém sua forma original, sem deformações. Figuras deformadas e retorcidas são estranhas, loucas e feias.

O real tem a ver com organização e método: as coisas parecem ser mais reais quando estão organizadas e categorizadas. Imagens embaralhadas e misturadas deixam o mundo confuso e estranho.

O real tem a ver com a razão: e a razão tem a ver com o correto. O que foge à nossa razão e ao nosso sentido causa estranhamento e é associado a algo errado, que precisa ser corrigido, feito de outra forma ou desfeito.

O real tem a ver com um modelo: o real é a representação do que vemos, reprodução do mundo tal como ele se apresenta a nós. Qualquer coisa que não reconheçamos foge da realidade.

O real tem a ver com a geometria euclidiana: para representar o real, é indicado o uso de uma superfície plana, que não acarrete em perturbações nas imagens. Objetos representados em outra geometria não são parte da realidade.

Com Salvador Dalí e crianças e matemática e oficina, experimentamos uma forma outra de ver, ser e estar no mundo. Em um exercício de (trans)formação que fez pensar além do real, a escrita de um trabalho se teceu com linhas escritas de experiência e fez nascer uma professora.

Professora que apresenta o mundo aos seus alunos para que eles sejam donos, suspendendo seu eu em confronto com o mundo e dando lugar a um novo eu: o eu-professora da experiência.